Cultivo mundial de transgénicos: divulgados dados de 2011

Cultivo mundial de transgénicos: divulgados dados de 2011

2012/02/07 – Foram hoje anunciados os dados do ISAAA relativos ao cultivo de transgénicos em 2011, e vale a pena fazer o ponto da situação.


O mapa dos cultivos de transgénicos a nível mundial, preparado pelo jornal The Guardian com base nos números da indústria hoje apresentados (se clicar na imagem pode vê-la em tamanho maior).

O ISAAA é uma entidade financiada pela indústria, incluindo empresas como a Monsanto, a Bayer e a CropLife International. Em geral o estilo do relatório é um pouco diferente dos de anos anteriores: neste as promessas são remetidas para um futuro mais distante e as verdades inconvenientes são liminarmente ignoradas (como o anúncio pela BASF de que ia abandonar o mercado dos transgénicos na União Europeia, ou a impossibilidade de ver, até agora, a beringela transgénica aprovada na Índia e o arroz transgénico aprovado na China). Noutros casos, é referida apenas a parte que interessa: descreve-se a decisão do tribunal onde se determinou que a decisão de proibir o cultivo de milho transgénico em França era irregular e estava anulada, mas nada é dito sobre o facto de que o governo francês já iniciou novo processo de proibição.

O ilusionismo matemático, por outro lado, é uma constante ao longo dos anos nestes relatórios. Por exemplo, os dois (DOIS!) hectares de batata transgénica na Alemanha são apresentados na principal tabela e imagem deste relatório como “<0.05 milhões de hectares". E para ser considerado um "mega-país" basta cultivar para cima de 50 mil hectares, muito embora o prefixo "mega-" se aplique a valores na casa do milhão. Além disso, segundo organizações como a Greenpeace e a Food and Water Europe, o ISAAA usa de grande criatividade nos seus números: se um hectare estiver cultivado com uma planta que tem três transgenes, esse hectare entra para as contas como sendo TRÊS hectares.

Algumas afirmações do relatório são passadas como pertencendo ao domínio da realidade sólida quando na verdade ainda existem apenas no mundo da ficção científica. Por exemplo, na página 16 o relatório afirma, entre outros, que “os transgénicos conseguem ultrapassar stresses abióticos (através de tolerência à seca e salinidade)”, mas a realidade é que não está comercializado, EM PAÍS ALGUM DO MUNDO, qualquer transgénico com alguma destas características.

E há alturas em que o relatório simplesmente… mente: na página 21 afirma que “o melhoramento convencional de batata é muito caro tanto em tempo como em recursos e, por si só, não conseguiu nem vai conseguir obter resistência durável ao míldio”, mas são bem conhecidas as batatas Sárpos, precisamente por serem obtidas por melhoramento convencional e terem a necessária resistência o míldio, entre outras vantagens.

Que conclusões globais podem ser razoavelmente retiradas dos dados apresentados?
– Que a área total de cultivo continua a aumentar, embora provavelmente a uma velocidade menor do que a publicada;
– Que as características transgénicas cultivadas no mundo continuam a ser essencialmente duas: tolerância a herbicidas e resistência a insetos, muito embora muitas outras promessas venham a ser feitas há anos;
– Que o cultivo está profundamente concentrado: 7 países apenas cultivam 94% de todos os transgénicos (e só os Estados Unidos cultivam 43% da área total);
– Que a área cultivada na União Europeia é mínima: apenas 0,06% da área agrícola na UE está dedicada aos transgénicos (a Espanha é o único país com uma área significativa e há seis países com proibições de cultivo – França, Alemanha, Áustria, Grécia, Hungria e Luxemburgo);
– Que a área cultivada no mundo com transgénicos, apesar de elevada, não ultrapassa os 3% da área agrícola: 97% da agricultura mundial continua livre de transgénicos (segundo a FAO, a área agrícola total é de 4,9 mil milhões de hectares).

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