FAQs – PERGUNTAS MAIS FREQUENTES
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• O que são Organismos Geneticamente Modificados, também conhecidos por OGM ou transgénicos?
• O que são genes e DNA?
• Qual é a diferença entre transgénicos e clones?
• Há quanto tempo há transgénicos?
• A criação de transgénicos é um processo exato?
• A criação de transgénicos é um processo rápido? E barato?
• A criação de transgénicos equivale ao melhoramento convencional que sempre se fez em agricultura?
• Que transgénicos há atualmente no mundo?
• Que transgénicos há atualmente na União Europeia?
• Quais as características dos transgénicos atualmente em circulação comercial no mundo?
• Que países proíbem o cultivo de transgénicos?
• Que países cultivam transgénicos?
• Que empresas produzem transgénicos?
• Porque é que a Monsanto tem tão má fama?
• Que transgénicos estão previstos para o futuro próximo?
• Há muitos transgénicos em Portugal?
• Ainda há milho e soja não transgénicos?
• Os alimentos transgénicos estão rotulados?
• Que alimentos transgénicos é que existem?
• Se no supermercado uma embalagem não diz nada quanto a ter ou não transgénicos, isso quer dizer o quê?
• As sementes transgénicas são mais baratas?
• Os transgénicos precisam de menos pesticidas?
• O que são as super-pragas?
• Os transgénicos são seguros?
• Quais são os impactos ambientais dos transgénicos do tipo Bt?
O que são Organismos Geneticamente Modificados, também conhecidos por OGM ou transgénicos?
Os transgénicos, ou OGM, são seres vivos – plantas, animais, microrganismos – que foram sujeitos a técnicas de engenharia genética. Esta tecnologia permite que os genes (pedaços de uma moléculas chamada DNA e que têm informação importante para o funcionamento das células) sejam extraídos de um organismo, alterados, agregados de novas formas e depois injetados num outro organismo, que vai adquirir novas características e transmiti-las a toda a sua descendência. De acordo com a Diretiva 2001/18, os OGM são “qualquer organismo, com exceção do ser humano, cujo material genético tenha sido modificado de uma forma que não ocorre naturalmente por meio de cruzamentos e/ou de recombinação natural.” O anexo 1A dessa Diretiva discrimina as técnicas que são/não são legalmente consideradas como conduzindo à produção de transgénicos.
O que são genes e DNA?
Dos micróbios às árvores mais altas, os seres vivos são compostos por células – as unidades básicas da vida. Cada célula tem uma “biblioteca” completa com a informação hereditária (que os pais transmitem aos filhos), organizada em grandes moléculas chamadas cromossomas. As pessoas, por exemplo, têm 46 cromossomas (23 de cada progenitor); os cães têm 78. Cada cromossoma é composto essencialmente por uma molécula muito comprida (pode atingir vários centímetros de comprimento – felizmente é muito fininha!), chamada DNA, e um grande conjunto de diferentes proteínas que organizam e mantêm esse DNA. É no DNA que está guardada a informação hereditária. Essa informação está no formato de linguagem quaternária: com quatro letras (em informática usa-se linguagem binária, só com dois caracteres – zeros e uns), em que cada palavra usa sempre exatamente três letras (o que dá, ao todo, 64 palavras diferentes).
Cada “livro” da biblioteca chama-se um gene e é composto por uma determinada sequência dessas palavras (normalmente tem umas centenas, mas pode atingir as dezenas de milhar), que lhe dá a sua identidade única. Um cromossoma é como uma prateleira cheia desses livros (centenas ou milhares deles), todos ao lado uns dos outros. Cada livro, ou gene, normalmente contém a informação necessária para se produzir uma proteína. No entanto, ao contrário dos livros de uma biblioteca, os genes interagem entre si e estão em comunicação constante: o que acontece a um gene pode afetar o comportamento dos restantes.
Quanto às proteínas, elas são os “funcionários” das células, ou seja, fazem praticamente o trabalho todo e mantêm a integridade celular.
Qual é a diferença entre transgénicos e clones?
A clonagem é uma técnica, frequentemente usada em engenharia genética e não só, que serve para obter cópias exatamente iguais de determinado material genético ou indivíduo. Um animal clonado é um animal que tem a mesma composição, em termos de DNA, do animal dador que lhe deu origem. Um organismo transgénico tem, por definição, um DNA diferente do organismo a partir do qual ele foi produzido, uma vez que lhe foi acrescentado pelo menos um gene que os “pais” não tinham. Resumindo, um clone pode ser também transgénico, e os transgénicos também podem ou não ser clonados.
Há quanto tempo há transgénicos?
Aquela que é considerada a primeira experiência laboratorial nesta área teve lugar em 1973: Herbert Boyer e Stanley Cohen introduziram genes de um sapo no DNA de uma bactéria. O primeiro OGM a sair do laboratório e chegar ao mercado foi o tomate Flavr Savr, alterado de modo a durar mais tempo antes de apodrecer (foi autorizado para cultivo e consumo em Maio de 1994 nos Estados Unidos mas saiu de comercialização em 1997). Nunca foi aprovado para entrar em Portugal.
Na Europa foi em 1986 que se realizou o primeiro teste de campo com transgénicos (aconteceu em França). Em Junho de 1994 a Comissão Europeia aprovou pela primeira vez a comercialização (e também o cultivo) de uma planta transgénica, mas com efeitos apenas para França: uma variedade de tabaco resistente ao herbicida bromoxinil, autorizado ao abrigo da Diretiva (em vigor à data) 90/220. Este tabaco já não consta da lista dos transgénicos aprovados para a União Europeia. O primeiro transgénico para cultivo em toda a União Europeia foi o milho MON 810, da Monsanto, autorizado em 1998 pela Comissão Europeia.
Em Portugal os testes de campo começaram em 1993 e o primeiro ano de cultivo comercial foi 1999. O cultivo foi interrompido logo no final desse ano e retomado em 2005.
A criação de transgénicos é um processo exato?
A primeira parte do método da manipulação é genética muito exata. Os cientistas conseguem recolher o gene específico que pretendem, e cortá-lo/recosê-lo com outros pedaços de DNA da forma planeada. Mas os restantes passos do método são uma autêntica lotaria: não há maneira de inserir o transgene numa posição pré-definida da célula alvo. O transgene aloja-se num local aleatório, onde pode destruir genes vizinhos, silenciá-los/ativá-los, ou simplesmente interagir com eles de uma forma que altera o seu comportamento normal.
Se as modificações anómalas causadas pela introdução do transgene forem poucas e muito evidentes é possível exluir essas plantas, mas quando são muitas e/ou subtis (ou que não as torna menos perigosas) as chances de que essas plantas sejam autorizadas aumentam significativamente. O cultivo dessas plantas representa uma verdadeira caixa de Pandora.
A criação de transgénicos é um processo rápido? E barato?
Tem sido afirmado que o desenvolvimento de variedades melhoradas pelos métodos convencionais é bastante demorado, o que representaria uma vantagem para a engenharia genética. No entanto, especialistas em melhoramento vegetal já deixaram claro que o período de tempo mínimo necessário para ambas as abordagens é sensivelmente o mesmo: cerca de 15 anos. No entanto, devido à rejeição dos consumidores e mercados, para os produtos da engenharia genética o tempo real até à comercialização pode acabar por ser substancialmente superior.
Embora a lentidão seja semelhante à partida, a quantidade de dinheiro necessária para o desenvolvimento de uma nova variedade vegetal por engenharia genética é muito superior à necessária para o melhoramento convencional. Ainda segundo o artigo científico referido acima, a proporção é de 50 para 1, ou seja, desenvolver uma planta transgénica custa 50 vezes mais. Mesmo se a variedade transgénica fosse adotada pelo dobro de produtores do que é normal para as variedades convencionais, o custo ainda seria 25 vezes superior.
A criação de transgénicos equivale ao melhoramento convencional que sempre se fez em agricultura?
Existem várias diferenças fundamentais. Aliás, precisamente por isso é que os transgénicos podem ser automaticamente patenteados, coisa que não acontece aos organismos não transgénicos que existem na agricultura. Ou seja, a indústria argumenta que existe um passo inventivo único, algo que resulta da criatividade humana, que diferencia transgénicos de não transgénicos.
Em termos concretos existem várias diferenças importantes. O melhoramento convencional em agricultura faz-se através de seleção e cruzamento por reprodução sexuada entre indivíduos da mesma espécie ou espécies muito próximas. Ou seja, os indivíduos são naturalmente compatíveis. Com engenharia genética o cruzamento é com espécies incompatíveis e muito distantes em termos evolutivos: peixes com genes humanos e plantas com genes de bactérias são alguns dos exemplos reais. Na verdade, os genes que são introduzidos no organismo receptor não vêm diretamente do organismo dador. São primeiro alterados no laboratório e associados a outros pedaços de DNA que podem ser totalmente sintéticos ou vir de ainda outros organismos (como os vírus). O resultado é uma quimera sintética que nunca existiu na Natureza, o que envolve ainda mais perigos do que uma transferência sem adulteração. Por exemplo, o milho transgénico NK 603, que está autorizado para consumo humano na União Europeia, tem incorporado um transgene composto por 11 pedaços de DNA de diferentes origens, alinhados numa sequência que nunca existiu na Natureza.
Uma outra diferença importante é relativa à velocidade a que as mudanças ocorrem. O melhoramento agrícola natural é mais gradual, e a evolução que as plantas e animais sofrem é mais lenta, do que a engenharia genética induz. Com transgénicos introduzem-se no ambiente, e em grandes quantidades, combinações genéticas que nunca tiveram oportunidade de co-evoluir com e adaptar-se aos restantes elementos do ecossistema. Isso fragiliza as interligações na teia da vida e abre as portas a todo o tipo de surpresas desagradáveis e, por definição, não antecipáveis.
Que transgénicos há atualmente no mundo?
Segundo dados da indústria relativos a 2011, a soja é o transgénico mais produzido no mundo (ocupa 47% da área total cultivada com transgénicos), seguida pelo milho transgénico (32%), pelo algodão transgénico (15%) e pela colza transgénica (5%). O cultivo de flores, beterraba, alfafa e algumas outras espécies transgénicas é tão diminuto (somam menos de 1% da área total) que não tem significado percentual. Ao todo, segundo os dados da indústria para 2011, cultivaram-se 160 milhões de hectares de culturas transgénicas.
Em termos de tipologia, e de acordo com as mesmas fontes, mais de três quartos (85%) dos transgénicos são tolerantes a um ou vários herbicidas, sobretudo o herbicida Roundup (cujo princípio ativo é o glifosato). Isso significa que os produtores podem usar herbicidas que matam as ervas daninhas sem matar a cultura. Os restantes 15% são do tipo Bt, ou seja, as plantas produzem elas próprias um inseticida que evita aos produtores a necessidade de pulverizar quando certos insetos atacam as culturas.
Que transgénicos há atualmente na União Europeia?
Em 2012 há apenas dois transgénicos cultivados em toda a União Europeia: trata-se do milho MON 810, da Monsanto, e da batata Amflora, da BASF (esta última não está aprovada para consumo humano, a não ser como contaminante e só pode ser usada para fins industriais ou para alimentação animal). Existe um outro transgénico autorizada para cultivo – o milho T25 da Bayer, tolerante ao herbicida glufosinato de amónio – mas que não é cultivado em nenhum dos 27 países nem consta do Catálogo Nacional de Variedades de Espécies Agrícolas e de Espécies Hortícolas.
Existem muitas variedades de transgénicos autorizadas para importação, vindas de países como os Estados Unidos, Brasil e Argentina, e que depois são cá usados livremente, quer na alimentação humana quer animal.
No algodão são:
281-24-236×3006-210-23
GHB614
LL25
MON1445
MON15985
MON15985 x MON1445
MON531
MON531 x MON1445
No milho são:
1507×59122
59122x1507xNK603
59122xNK603
Bt11
Bt11xGA21
Bt11xMIR604
Bt11xMIR604xGA21
DAS1507
DAS1507xNK603
DAS59122
GA21
MIR604
MIR604 xGA21
MON810
MON863
MON863 x MON810
MON863 x NK603
MON863xMON810xNK603
MON88017
MON88017xMON810
MON89034
MON89034 xMON88017
MON89034 xNK603
NK603
NK603 x MON810
T25
Na colza (uma espécie de couve, usada sobretudo para extrair óleo das sementes) são:
GT73
MS8
MS8xRF3
RF3
T45
Na soja são:
356043
A2704-12
A5547-127
MON40-3-2
MON87701
MON89788
Na beterraba é a H 7-1.
E na batata é a Amflora (EH92-527-1).
Em termos de alimentação animal está igualmente autorizada a utilização de biomassa de origem bacteriana (pCABL, da Ajinomoto Eurolysine) e fúngica (pMT742/pAK729, da NOVO Nordisk). Em ambos os casos os microrganismos são previamente inativados.
Também há flores transgénicas autorizadas – são todas cravos roxos da empresa Florigene:
Moonshadow 1
Moondust
Moonlite
Nem todas as aprovações abrangem exatamente os mesmos fins, e a legislação ao abrigo da qual estas aprovações tiveram lugar também varia.
Quais as características dos transgénicos atualmente em circulação comercial no mundo?
Segundo dados da indústria relativos a 2011, a característica transgénica mais importante, e que ocorre em 59% da área cultivada, é a tolerância a herbicida (o que permite ao produtor aplicar herbicida enquanto a cultura está a crescer sem que esta morra). Em 15% da área cultivada encontram-se transgénicos com resistência a insectos (em que o produtor não tem de aplicar inseticida, porque a própria planta o produz). E em 26% cultivam-se transgénicos que apresentam as duas características juntas. Em menos de 1% foram cultivados outros tipos de transgénicos menos relevantes, como a resistência a vírus. Existem diferentes tipos de tolerâncias e de resistências, e estas características aparecem em diferentes espécies. NÃO existem atualmente no mercado transgénicos resistentes à seca, com mais nutrientes, que se conservem melhor, ou com outro tipo de benefícios. Do ponto de vista agronómico a tolerância a herbicidas e a resistência a insetos podem parecer muito úteis. As suas desvantagens são detalhadas noutras alíneas desta página.
Que países proíbem o cultivo de transgénicos?
Na União Europeia vários países proíbem o cultivo de milho transgénico MON 810, seja por via legal ou outra mais criativa: a Áustria, Hungria, França, Alemanha, Grécia, Luxemburgo, que invocaram a cláusula de salvaguarda prevista na legislação europeia, mas também a Bulgária e a Itália. A Bulgária, o Luxemburgo e a Áustria também já proibiram especificamente o cultivo da batata Amflora. A Polónia proibe o comércio de transgénicos, embora aparentemente haja cultivo no país.
Que países cultivam transgénicos?
Segundo dados da indústria relativos a 2011, apenas seis países produzem mais de 90% dos transgénicos cultivados a nível mundial: Estados Unidos (43% do total de cultivos), Brasil (19%), Argentina (15%), Índia (7%), Canadá (7%) e China (2%). A área total cultivada com transgénicos a nível mundial, ainda segundo a indústria, foi de 160 milhões de hectares, o que, apesar de elevado, ainda assim ronda apenas os 3% da área agrícola: 97% da agricultura mundial continua portanto livre de transgénicos (segundo a FAO, a área agrícola total é de 4,9 mil milhões de hectares).
Na União Europeia, em 2011, o milho transgénico foi legalmente cultivado apenas em Espanha, Portugal, República Checa, Eslováquia e Roménia, num total aproximado de 115 mil hectares. À exceção de Espanha, onde o cultivo se aproxima dos cem mil hectares, as áreas europeias dedicadas a transgénicos são bastante diminutas. Em Portugal, em 2011, segundo números oficiais, o cultivo de milho transgénico ocupou cerca de 7724 hectares.
Para colocar em perspectiva: a União Europeia cultiva cerca de 600 vezes menos transgénicos (em termos de área ocupada) do que os Estados Unidos. E em Portugal a área cultivada com milho transgénico resume-se a 5,6% da área total cultivada com milho no país. Não é aquilo a que se possa chamar uma história de sucesso.
Que empresas produzem e vendem sementes transgénicas?
A maior de todas a nível mundial é de longe a Monsanto: 85% de toda a área plantada com transgénicos em 2008 usou as suas sementes (para calcular este número basta ver o total de hectares com sementes da Monsanto e dividir pelo total de hectares cultivados com transgénicos no mesmo ano). A Monsanto não domina apenas o mercado das sementes transgénicas, mas também o das sementes convencionais: entre 1996 e 2008 esta empresa comprou dezenas de empresas de sementes de todas as áreas, numa consolidação sem paralelo na história das sementes. Isso resultou num controlo que, em 2008, atingia já 23% do mercado mundial de sementes comerciais. Em 2012, de acordo com as listagens oficiais das plantas transgénicas em circulação na União Europeia, a Monsanto detém 22 das autorizações (uma delas em conjunto com a KWS), a Bayer, a Syngenta e a DuPont têm 7 cada uma (no caso desta última, três das autorizações são em conjunto com a Dow), a Dow tem 4 (contando com as que tem em conjunto com a DuPont) e finalmente a BASF e a KWS têm uma só.
Porque é que a Monsanto tem tão má fama?
A Monsanto não é uma empresa de confiança. Ao longo dos anos tem vindo a acumular um historial inacreditável de corrupção, envenenamento e mentira, a tal ponto que um dos tribunais americanos que já a condenou classificou o seu comportamento como “de natureza tão inacreditável e a um nível tão extremo que ultrapassa todos os limites da decência e deve ser visto como horrível e liminarmente intolerável numa sociedade civilizada”.
Noutro caso a empresa foi obrigada em tribunal a pagar 1,5 milhões de dólares por ter subornado governantes indonésios na tentativa de mudar uma lei que obrigava à avaliação de impacto ambiental antes de o cultivo de transgénicos ser autorizado.
Em 2009 esta multinacional foi condenada pelo Supremo Tribunal francês por publicidade enganosa. A Monsanto publicitava o seu herbicida Roundup, aquele a que as suas culturas transgénicas são tolerantes, como sendo “biodegradável”, em que “deixava o solo limpo”. O tribunal concluiu o contrário e aplicou uma multa de 15 mil euros.
Em 2010 um ex-diretor da Monsanto Índia admitiu que era prática corrente a empresa falsificar os estudos científicos. Também neste ano o governo americano multou a multinacional em 2,5 milhões de dólares por vender semente transgénica mal rotulada no país.
Por tudo isto e muito mais, a Monsanto foi considerada em 2010 como a multinacional menos ética em todo o mundo.
Que transgénicos estão previstos para o futuro próximo?
Segundo a indústria, em 2011 há pedidos pendentes na União Europeia para aprovação de variedades transgénicas de arroz, milho, algodão, soja, colza, beterraba e batata. Sabe-se igualmente que estão em desenvolvimento peixes transgénicos, trigo, e numerosas outras variedades de plantas (desde a batata doce às abóboras, passando pelo sorgo e beringela, entre muitos outros).
Um desenvolvimento ainda mais controverso está na produção de plantas e animais transgénicos que foram alterados para produzir substâncias não alimentares, ou seja, em que os organismos deixam de ser comestíveis porque sintetizam químicos usados na indústria e que não pertencem à cadeia alimentar. Isto inclui medicamentos, hormonas, enzimas, etc. São exemplo disso a batata Amflora autorizada na União Europeia e o milho Enogen para produção de álcool, autorizado nos Estados Unidos.
Há muitos transgénicos em Portugal?
Em Portugal os primeiros testes experimentais de cultivo de transgénicos tiveram lugar em 1993. Em 2012 decorre o último ano do único ensaio com transgénicos atualmente em curso no país (é no concelho de Monforte, iniciou-se em 2010 e envolve milho da empresa Monsanto).
Em termos de cultivo comercial, Portugal autorizou duas variedades de milho transgénico (Elgina e Compa CB, ambas resistentes a insectos por produzirem uma toxina do tipo Bt) que só foram cultivadas em 1999 em cerca de mil hectares (numa altura em que ainda não existiam quaisquer regras quanto ao seu cultivo). Depois, em 2005, iniciou-se e dura até hoje o cultivo de milho MON 810 autorizado pela Comissão Europeia (também ele do tipo Bt e resistente a insectos – mais exactamente à broca do milho: Sesamia nonagrioides e Ostrinia nubilalis). Estão disponíveis os gráficos com os números oficiais do cultivo comercial de transgénicos em Portugal entre 2005 e 2011. O cultivo de transgénicos nas Regiões Autónomas foi proibido pelos respetivos governos regionais.
Ainda há milho e soja não transgénicos?
Sim. Embora o milho e a soja sejam as espécies onde mais há cultivo transgénico, também há ainda produção convencional e biológica disponível. No entanto, por causa da necessidade de segregar e de fazer análises laboratoriais para detectar eventuais contaminações, os custos podem ser superiores ao das matérias primas contaminadas.
Os alimentos transgénicos estão rotulados?
A União Europeia tem em vigor o Regulamento 1830/2003 sobre rotulagem de transgénicos e de alimentos ou rações produzidos a partir de transgénicos que impõe várias regras. Em geral, um alimento que contenha transgénicos tem de indicar isso mesmo no rótulo através da expressão “geneticamente modificado.” Ou seja, se um pacote de cereais para o pequeno almoço contiver milho transgénico, por exemplo, isso tem de estar indicado na lista de ingredientes. No entanto a rotulagem não é obrigatória em todas as circunstâncias. Por exemplo, se o transgénico for um contaminante cuja presença não atinge 0,9% do respectivo ingrediente, não tem de estar indicado (isto aplica-se também em produtos de agricultura biológica). Outro exemplo, mais grave, é que a rotulagem só se aplica na compra do produto numa loja, mas não na compra de uma refeição numa cantina ou restaurante. E, pior ainda, os produtos de origem animal não indicam se os animais foram alimentados com rações transgénicas.
Que alimentos transgénicos é que existem?
Existem poucos produtos no supermercado com a indicação de que contêm ingredientes transgénicos (ver fotos em www.stopogm.net/?q=node/188), mas há muitos milhares de toneladas de transgénicos a entrar regularmente no país. Isso significa, na prática, que o grosso dos transgénicos (pelo menos 80%, talvez até mais de 95%) está a ser canalizado para onde a rotulagem não se aplica: para as rações animais, em que o consumidor só vê o produto final (carne, leite, ovos, peixe de aquacultura) e não é informado de que os animais foram alimentados com rações transgénicas. Vale a pena lembrar que, tal como demonstrado pela doença das vacas loucas, aquilo que os animais comem pode ser um problema grave para a nossa saúde. Em Portugal, a esmagadora maioria das rações para animais contém soja e milho transgénicos.
Se no supermercado uma embalagem não diz nada quanto a ter ou não transgénicos, isso quer dizer o quê?
Há três possibilidades:
– a empresa responsável pelo produto pode estar a cumprir a lei, e nesse caso não usou ingredientes transgénicos (a não ser, eventualmente, devido a contaminação que não atinja os 0,9% por ingrediente);
– a empresa não está a cumprir a lei, e nesse caso o alimento pode ter transgénicos ou seus derivados mas isso não é dito na embalagem;
– no caso de produtos de origem animal os transgénicos estão presentes indiretamente (através das rações que os animais comeram), e nesse caso não existe legislação para obrigar à rotulagem.
Como, para já, só estão em circulação na Europa alimentos transgénicos de cinco espécies (milho, soja, colza, beterraba e algodão), há muitos alimentos à venda que, por definição, não podem ter/ser transgénicos: fruta, hortaliças, pão, arroz, etc, etc.
Os produtos biológicos não podem, por lei, conter transgénicos nem envolver rações transgénicas na alimentação animal.
As sementes transgénicas são mais baratas?
Em 2010 a empresa Pioneer estava a vender no norte do país sacos de 50 mil sementes que custavam cerca de 50 euros no caso de serem transgénicas ou, no caso de sementes não transgénicas, custavam apenas 37 euros. Isso representa um custo acrescido de 35% para quem pretender cultivar sementes transgénicas. Como um saco de 50 mil sementes serve para aproximadamente 7,5 hectares, o diferencial de preços corresponde a cerca de 1,7 euros por hectare.
Os transgénicos precisam de menos pesticidas?
Segundo dados da indústria relativos a 2011, em 85% da área cultivada mundialmente com transgénicos usam-se variedades que são tolerantes a herbicidas. Isso significa que em 136 milhões de hectares foi possível aplicar mais herbicida do que seria possível com plantas convencionais, uma vez que estas morreriam se fossem expostas a esses químicos.
Estudos independentes demonstraram que, de facto, houve um aumento do uso de herbicidas, essencialmente a partir de 1999: uma análise do período de 1996 a 2004 nos Estados Unidos concluiu que foram usados mais 55 mil toneladas de pesticidas do que se seriam se não tivesse havido cultivo de culturas transgénicas. Foi medida uma pequena redução do uso de pesticidas nas culturas do tipo Bt (cerca de sete mil toneladas), que foi totalmente absorvida por um grande aumento no consumo de herbicida nas culturas tolerantes ao glifosato (cerca de 62 mil toneladas).
O que são as super-pragas?
Tal como as bactérias se tornam resistentes em ambientes onde se usam muitos antibióticos, também as ervas daninhas acabam por desenvolver resistência aos herbicidas que foram criados para as matar. Essa resistência tipicamente não é absoluta (isto é, as ervas são resistentes à dose “normal” de herbicida, mas são sensíveis a doses maiores) e isso leva a um círculo vicioso onde se usam concentrações cada vez mais fortes de herbicida para conseguir matar essas plantas.
Segundo dez cientistas americanos,especialistas em ervas daninhas, afirmaram, em 2004: “É bem sabido que apareceram populações de avoadinha [Conyza canadensis>/i>] resistentes ao glifosato [princípio ativo do herbicida Roundup] em culturas de algodão e soja transgénicos. A resistência foi detetada pela primeira vez no Estado do Delaware no ano 2000, uns meros cinco anos após a introdução da soja transgénica. Desde essa data já se encontrou avoadinha resistente em 12 Estados, e estima-se que se tenha espalhado por 600 mil hectares só no Estado do Tennessee.”
Segundo o site weedscience.org, em 2012 já se conhecem 23 pragas resistentes ao glifosato, e a preocupação é grande. Em 2010 o presidente da Arkansas Association of Conservation Districts americana já afirmava que esta expansão de infestantes representava “A maior ameaça à produção agrícola que alguma vez vimos.“. O jornal New York Times sublinha que as super-pragas, como são chamadas, podem conduzir a “um aumento de preços dos alimentos, abaixamento da produtividade e aumento dos custos da produção agrícola, além de uma maior poluição do solo e da água”.
Uma das consequências desta situação altamente insustentável é que as empresas da engenharia genética começaram a desenvolver transgénicos tolerantes a outros herbicidas – alguns deles antigos e que já tinham sido abandonados devido à sua perigosidade. As batalhas sucedem-se, mas as ervas já ganharam a guerra.
Os transgénicos são seguros?
Segundo a indústria que os criou e comercializa, são as plantas e alimentos mais seguros que há no mercado. Mas, infelizmente, acumulam-se cada vez mais provas do seu impacto negativo no ambiente, na saúde, na agricultura, na economia e no desenvolvimento sustentável. Para consultar informação detalhada veja a série Who Benefits from GM Crops?, o levantamento de artigos científicos em GM CROPS: Research documenting the limitations, risks, and alternatives, ou ainda a visão global compilada por Vandana Shiva em The GMO Emperor Has No Clothes. A Greenpeace também publicou sínteses interessantes em 2008 e em 2010. Sobre os efeitos para a saúde em particular está disponível o documento GM crops – The Health Effects. Para um levantamento em português vale a pena consultar o livro Alimentos Transgênicos: Será que precisamos deles?.
Quais são os impactos ambientais dos transgénicos do tipo Bt?
• São tóxicos para espécies não-alvo. Estudos mostram que a exposição de longo prazo a pólen de milho Bt tem impactos negativos no comportamento, e também na sobrevivência, da borboleta monarca (uma das mais conhecidas borboletas americanas). Têm sido feitos poucos estudos em borboletas europeias, mas alguns já publicados (ver artigos de Felke et al. (2002), de Darvas et al. (2004) e de Lang et al. (2006)) mostram que elas sofreriam igualmente com a exposição ao milho Bt. Estes estudos focam sobretudo a toxina presente no milho Bt MON 810: sabe-se muito menos sobre os tipos de toxinas Bt presentes noutras variedades de milho transgénico.
• São tóxicos para insetos benéficos. As culturas Bt afetam negativamente insetos benéficos, tal como a crisopa verde (em inglês: green lacewing), que são necessários para o controle de pragas do milho (ver trabalhos de Andow et al. (2004), Harwood et al. (2005), Lövei et al. (2005) e Obrist et al. (2006)). Também já se demonstrou que perturbam a aprendizagem das abelhas. Infelizmente a avaliação de risco realizada na União Europeia, ao abrigo da qual as plantas transgénicas são autorizadas, apenas leva em conta a toxicidade aguda e não avalia a toxicidade ao longo dos vários níveis da cadeia alimentar, muito embora estes impactos sejam igualmente importantes. Ou seja, para ser realmente seguro, não basta que o milho transgénico seja seguro para os animais (não alvo) com que interage diretamente: também tem de ser seguro para os predadores desses animais. A simplificação em vigor na União Europeia é desnecessária e potencialmente perigosa e já foi amplamente criticada por diversos cientistas (Andow e Hilbeck et al. (2004), Snow et al. (2005) e Andow et al. (2006)), os quais defendem uma avaliação integrada.
• São uma ameaça para o ecossistema do solo. Muitos transgénicos secretam a toxina Bt pelas raizes para o solo circundante. Além disso o restolho das plantações transgénicas que fica no terreno depois da colheita ainda contém o Bt na sua versão ativa (Zwahlen et al. (2003), Stotzky (2004) e Flores et al. (2005)). Essa persistência pode estender-se por vários meses, o que levanta questões não respondidas sobre o seu real impacto nos organismos benéficos do solo, como minhocas, colêmbolos, nemátodos e microrganismos, que são essenciais para a decomposição vegetal, circulação de nutrientes e saúde do solo em geral.
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