Transgénicos: Riscos para a Saúde
Abaixo estão catalogados e resumidos alguns artigos científicos importantes na área dos impactos negativos na saúde.
Abreviaturas:
GM – Geneticamente modificado/a
OGM – Organismo geneticamente modificado/a
OMS – Organização Mundial de Saúde
RI – Resistência a insectos
RR – Roundup Ready (da Monsanto)
TH – Tolerância a herbicidas
• Revisão da literatura científica sobre avaliação de risco para a saúde dos transgénicos
• Estudos científicos realizados em animais de laboratório referentes a transgénicos que já estão comercializados
Revisão da literatura científica sobre avaliação de risco para a saúde dos transgénicos
Os dois artigos revelam que há poucos estudos científicos sobre a segurança do consumo de alimentos transgénicos, não existindo nenhuma referência de cientistas ao serviço da indústria. No entanto os transgénicos estão no mercado desde 1994.
• Toxicity Studies of Genetically Modified Plants – A Review of the Published Literature (2007) AC
De acordo com a OMS os produtos GM no mercado foram submetidos a avaliação de risco conduzidos pelas autoridades nacionais e essa avaliação não detectou risco para a saúde humana.
É surpreendente como é que a OMS pode afirmar tão claramente isso, uma vez artigos publicados em revistas científicas internacionais durante a última década são quase inexistentes ou muito poucas se referem a estudos de risco toxicológico de alimentos GM na sáude humana e animal. Na verdade, numa busca efectuada por José Domingo (Domingo, 2007) o n.º de referências encontradas com a palavra-chave “transgenic food” (alimento transgénico), por exemplo, contrasta com o n.º de referências com a palavra-chave “health risk of transgenic foods” (Risco para a saúde de alimentos transgénicos), de 4 127 para 23, respectivamente, sendo que das referências relativas ao “risco”, “toxicidade” ou “efeitos adversos”, não correspondem directamente muitas vezes ao tópico.
Não só o número de referências é limitado como a maioria dos estudos publicados não foram realizados pelas empresas de biotecnologia que produzem estes produtos. A conclusão só pode ser uma: Onde está a evidência científica de que os alimentos/plantas GM são toxicologicamente seguros? Outra possível conclusão é, se foram obtidos dados sobre avaliação toxicológica de alimentos GM, estes não foram reportados a jornais científicos e submetidos a julgamento científico.
Um problema importante na avaliação da segurança dos alimentos GM prende-se com o uso do conceito de “substância-equivalência”. Este conceito é baseado no seguinte princípio: “se um novo alimento é tido como substancialmente equivalente na sua composição e características nutricionais em relação a um alimento já existente, pode ser considerado tão seguro como o alimento convencional”. Assim, a aplicação deste conceito não é uma avaliação de risco, o princípio de substância-equivalente não deve ser um ponto de partida sendo necessários mais estudos toxicológicos e estudos a longo prazo.
• Health Risks of GM Foods – Many Opinions but Few Data (2000) AC
Na primeira pesquisa o autor usou a frase “toxicity of transgenic foods” (toxicidade dos alimentos transgénicos) e obteve 44 citações. Apenas uma correspondeu a um estudo experimental em ratos (Fares, 1998). Numa segunda pesquisa usou a frase “adverse effects of transgenic foods” (efeitos adversos dos alimentos transgénicos) e obteve 67 citações, mas apenas 2 estavam directamente relacionadas com o tópico, uma era a mesma referência encontrada na primeira busca e a outra era um estudo de 38 dias de duração em que frangos foram alimentados com dieta contendo milho Bt Evento 176.
Na terceira busca, usou a frase “genetically modified foods” (alimentos geneticamente modificados) e surgiram 101 citações. Apenas 4 correspondiam a estudos experimentais em que os potenciais efeitos adversos dos alimentos GM foram avaliados. Dois avaliaram a segurança do consumo de soja GM em ratos. Outro foi o controverso estudo de Ewen and Pusztai de 1999, que examinou os efeitos em ratos da dieta contendo batatas transgénicas. A quarta citação correspondeu ao estudo dos efeitos da lectina (insecticidal lectin) GNA em células do sangue humanas. Apenas mais dois estudos adicionais o autor considerou estarem relacionados com os riscos para a saúde dos alimentos GM.
O resultado mais surpreendente desta revisão foi a ausência de referências de estudos realizados pela indústria.
Estudos científicos realizados em animais de laboratório referentes a transgénicos que já estão comercializados
Estes estudos, que demonstram impacto negativos do consumo de transgénicos e uma não-equivalência clara entre alimentos transgénicos e não-transgénicos, foram ignorados pelas autoridades competentes, o que levou a que os transgénicos em causa continuem em circulação.
• A Comparison of the Effects of Three GM Corn Varieties on Mammalian Health (2009) AC
Neste artigo os autores apresentam pela primeira vez uma análise comparativa dos dados das análises de sangue e de órgãos obtidos em estudos com ratos alimentados com as 3 principais variedades comercializadas de milho geneticamente modificado (GM), os milhos NK 603, MON 810 e MON 863, que estão presentes em alimentos para consumo humano e animal em todo o mundo. O Milho NK 603 foi modificado para ser tolerante ao herbicida de largo espectro Roundup e como tal contém resíduos deste produto. Os milhos MON 810 e MON 863 foram modificados por engenharia genética para sintetizarem duas toxinas Bt diferentes usadas como insecticidas.
Em dois diferentes laboratórios e em diferentes datas: na Monsanto (no Missouri, USA) para o milho NK 603 e MON 810 em Junho de 2000 e nos Laboratórios (Covance Laboratories Inc., Virginia, USA) para o milho MON 863 em Março de 2001, sob o patrocínio da Monsanto. Os dados em bruto foram obtidos por governos europeus e tornados publicamente disponíveis para escrutínio e contra-avaliação.
De acordo com a Directiva Europeia CE/2001/18, os dados bioquímicos brutos necessários para permitir uma reavaliação estatística têm de ser disponibilizados, mas infelizmente esta não é sempre a prática corrente. Nesta ocasião, os dados requeridos para análise estatística independente pelos autores deste artigo científico foram obtidos tanto por acções em tribunal (perdidas pela Monsanto) para obter os dados de estudos de alimentação de MON863 (Junho 2005) como por cortesia de governos ou advogados da Greenpeace.
Estes estudos constituem um modelo de investigação de possíveis efeitos toxicológicos subcrónicos destes cereais GM em mamíferos e humanos. Estes são os testes in vivo mais longos realizados em mamíferos com consumo destes OGM.
Foram classificados aproximadamente 80 parâmetros bioquímicos diferentes por órgão e medidos no soro e urina após 5 e 14 semanas de consumo. Os resultados, como seria de esperar, são muito diferentes dos da Monsanto, assim foram consideradas como biologicamente significativas várias alterações que permitem concluir a existência de lesões hepatorenais, danos variáveis no coração, baço, glândulas adrenais e sistema sanguíneo.
• Intestinal and Peripheral Immune Response to MON810 Maize Ingestion in Weaning and Old Mice (2008) AC
O milho MON810 foi produzido pela inserção de uma sequência de ADN que codifica a forma bioactiva da proteína do Bacillus thuringiensis (Bt) Cry 1Ab.
Até agora a avaliação dos efeitos imunológicos era baseada na avaliação do potencial alergénico das proteinas recombinates puras e apenas um estudo recente considerou os efeitos potencial imunotoxicológico de todo o OGM fornecido a ratos por diferentes períodos (Kroghsho et al, 2008). Por outro lado, nenhum estudo considerou a resposta imunitária do intestino.
No presente estudo foi estudada a resposta imunitária periférica e no intestino do consumo a longo-prazo do milho MON 810 (o único transgénico autorizado para cultivo na EU) comparativamente à variedade de milho comercial não transgénica (isogénica), em ratos. Foram estudados vários períodos, 30 dias e 90 dias após o desmame por serem as fases mais susceptíveis a problemas imunológicos devido a uma resposta imunitária menos eficiente, do que em ratos mais velhos.
Grupo 1 – Ratos ao desmame (21 dias de idade) alimentados durante 30 e 90 dias com dieta contendo 50% de milho MON 810
Grupo 2 – Ratos com 18-19 meses de idade foram alimentados durante 90 dias com dieta contendo 50% de milho MON 810
Grupos controle – Ratos ao desmame e ratos com 18-19 meses alimentados com dieta contendo 50% de milho de variedade isogénica não transgénica.
No final de cada período da experiência os animais foram anestesiados para recolha de sangue e incisão do baço e intestinos. Verificaram-se várias alterações no imunofenótipo do intestino, baço e linfócitos circulantes e no nível de citoquinas séricas. O aumento de algumas citoquinas verificou-se em todos os grupos etários. no grupo mais afectado foi o de ratos desmamados há 30 dias que demonstraram várias alterações no imunofenótipo de linfócitos intraepiteliais, baço e linfocitos sanguíneos. Apenas houve um aumento das células B nos ratos que consumiram milho MON 810 durante 90 dias. Nos ratos mais velhos o consume de milho MON 810 induziu também várias alterações nos linfócitos intraepiteliais e sangue, que se assemelham às verificadas nos ratos desmamados alimentados durante 30 dias com o milho transgénico.
Estes dados sugerem a importância do intestino e da resposta periférica à ingestão de alimentos GM assim como da idade do consumidor na avaliação da segurança dos OGM.
• A Long-term Study on Female Mice Fed on a Genetically Modified Soybean – Effects on Liver Ageing (2008) AC
Grupo 1 – 10 ratos do sexo feminino alimentados com dieta contendo 14% de soja GM (RR)
Grupo 2 (controlo) – 10 ratos do sexo feminino alimentadas com dieta contendo 14% de soja convencional.
Os dois grupos foram alimentados desde o desmame até aos 24 meses de idade, foram pesados a cada 2 meses. Aos 24 meses foram sacrificados e investigadas as características morfo-funcionais do fígado de ratos com 24 meses de idade, com o objectivo de detectar eventuais consequências a longo prazo no género feminino, uma vez que os estudos realizados anteriormente não permitiram essa avaliação pois duraram poucos meses e o género feminino parece ser menos sensível de acordo com vários estudos.
Este estudo demonstrou que o consumo de soja transgénica (RR) influencia algumas características (metabólicas e morfológicas ao nível microscópico) do fígado durante o processo fisiológico de envelhecimento, e embora o mecanismo continue desconhecido, revela a importância de investigar as consequências a longo-prazo da dieta GM e o potencial efeito sinérgico com a idade, xenobióticos e/ou stress.
• New Analysis of a Rat Feeding Study with a Genetically Modified Maize Reveals Signs of Hepatorenal Toxicity (2007) AC
O milho MON 863 foi aprovado para consumo na Europa em 2005. Um tribunal na Alemanha permitiu em Junho de 2005 o acesso público de todos os dados do estudo efectuado pela Monsanto, que negou publicar este estudo alegando segredo comercial. O estudo realizou-se em ratos e decorreu durante 90 dias.
A reanálise com um método estatístico adequado verificou-se que os ratos alimentados com MON 863 evidenciaram variações significativas no crescimento em ambos os sexos, com uma diminuição de peso de cerca de 3,3% em machos e aumento de 3,7% em fêmeas. As análises bioquímicas revelaram sinais de toxicidade hepatoprrenal com diferentes sensibilidades em machos e fêmeas. A Monsanto não avaliou a variabilidade do peso corporal. Mais experiências são essenciais de modo a indicar a verdadeira natureza e extensão da possível patologia. Com os dados presentes não pode ser concluído que o milho MON 863 é um produto seguro.
O estudo realizado pela Monsanto foi o único sobre avaliação do efeito na saúde do milho MON 863 (e que suportou o processo de aprovação), assim a aprovação deste milho foi baseada na alegação de que todas as diferenças significativas não tinham significado biológico. O MON 863 possui um gene marcador de resistência à neomicina.
O método estatístico usado pela Monsanto não foi suficientemente detalhado para detectar desvios nos parâmetros bioquímicos de modo a evidenciar possíveis sinais patológicos durante as 14 semanas do estudo. A experiência deveria ter estudado de forma mais eficiente a toxicidade sub-crónica, em particular com mais ratos a consumir milho GM em comparação com os outros grupos (em vez de apenas 40 num total de 400 ratos utilizados no estudo).
Os autores recomendam vivamente nova avaliação e mais prolongada exposição de mamíferos a dietas com OGM com cuidada observação clínica, antes de se concluir que o MON 863 é seguro para consumo.
Foi investigada a presença de fragmentos de DNA em tecidos de coelhos alimentados com dieta contendo soja GM e os possíveis efeitos no metabolismo celular através da determinação de várias enzimas no soro, coração, músculo-esquelético, fígado e rim. Foi possível encontrar DNA de origem vegetal em vários tecidos dos animais. Não foram detectadas diferenças significativas no nível de enzimas no soro, mas um aumento significativo da desidrogenase láctica foi encontrado em particular no rim e coração (mas não no músculo) pelo que é sugerida uma potencial alteração na produção local da enzima.
• Reversibility of Hepatocyte Nuclear Modifications in Mice Fed on Genetically Modified Soybean (2005) AC
Grupo 1 – 12 ratos alimentadas com dieta contendo 14% de soja GM;
Grupo 2 (controlo) – 12 ratos alimentadas com dieta contendo 14% de soja convencional.
Os dois grupos foram alimentados durante 3 meses desde o desmame e depois durante 1 mês as dietas foram trocadas, para determinar se as alterações eram reversíveis. Em paralelo, para investigar a influência da soja GM em adultos, alterou-se a dieta ao mesmo tempo. Verificou-se que a reversão de 1 mês da dieta pode influenciar o núcleo dos hepatócitos em ratos adultos restaurando em animais com alimento GM algumas características típicas do grupo controlo e induzindo as características/alterações observadas nos animais alimentados com soja GM a partir do desmame. Isto sugere que as alterações relacionadas com a soja GM são potencialmente reversíveis, e também que algumas alterações são induzidas em organismos adultos a curto-prazo. Contudo, continua por explicar as razões para estas alterações.
• Ultrastructural Analysis of Testes from Mice Fed on Genetically Modified Soybean (2004) AC
Os testículos são um órgão conhecido como sendo um bom bioindicador e tem sido utilizado, por exemplo, para monitorizar a poluição por metais pesados.
Grupo 1 – 12 ratas prenhas alimentadas com dieta contendo 14% de soja RR;
Grupo 2 (controlo) – 12 ratas prenhas alimentadas com a mesma dieta contendo soja convencional.
As respectivas ninhadas foram sacrificadas com 2, 5 e 8 meses de idade.
Todos os testículos dos ratos de todas as idades com alimento GM apresentam alterações microscópicas que não estavam presentes nos ratos do grupo controlo. Algumas são reversíveis aos 8 meses de idade, provavelmente devido a um mecanismo de compensação, mas outras são irreversíveis aos 8 meses. Mais estudos estão em curso para elucidar se estas alterações podem afectar a fertilidade em ratos.
A causa para as alterações observadas não pode ser estabelecida conclusivamente nesta fase da pesquisa, mas uma vez que a soja usada neste estudo foi soja RR não é de excluir a hipótese que o herbicida aplicado durante o cultivo possa estar implicado.
• Fine Structural Analyses of Pancreatic Acinar Cell Nuclei from Mice Fed on Genetically Modified Soybean (2003) AC
Grupo 1 – 12 ratas prenhas alimentadas com dieta contendo 14% de soja RR;
Grupo 2 (controlo) – 12 ratas prenhas alimentadas com a mesma dieta contendo soja convencional.
A avaliação do pâncreas foi efectuada aos descendentes aos 1, 2, 5 e 8 meses de idade.
Verificaram-se alterações significativas relacionadas com a alimentação e/ou idade – tipo de alimentação, ou seja, a dieta com quantidade significativa de soja GM pode influenciar o metabolismo pancreático em ratos.
Grupo 1 – alimentado com 14% de soja RR (variedade GM TH), e
Grupo 2 (controlo) – alimentado com a mesma dieta soja convencional.
Foram usadas 24 fêmeas das ninhadas, e 12 foram alimentadas com soja GM e as outras 12 com soja convencional. Os ratos foram desmamados e sacrificados aos 1, 2, 5 e 8 meses de idade.
Não houve alteração significativa no peso corporal nem alterações macroscópicas do fígado entre os dois grupos. As alterações foram ao nível do núcleo dos hepatócitos. As análises bioquímicas (AST, ALT, LDH e GGT) também não revelaram diferenças e em todas as idades consideradas no estudo.
A forma irregular do núcleo verificou-se em ratos com alimento GM, excepto com 1 mês de idade. Esta alteração indicia uma elevada taxa metabólica, cujos mecanismos responsáveis continuam desconhecidos e é necessária mais investigação sobre este assunto de interesse científico relevante.
• Ultrastructural Analysis of Pancreatic Acinar Cells from Mice Fed on Genetically Modified Soybean (2002) AC
Grupo 1 – 12 ratos alimentadas com dieta contendo 14% de soja GM;
Grupo 2 (controlo) – 12 ratos alimentadas com a mesma dieta contendo soja convencional.
Ambos iniciaram ao desmame, foram pesados e sacrificados aos 1, 2, 5 e 8 meses de idade.
Não houve alterações significativas no peso e no aspecto macroscópico dos pâncreas. Apesar disso houve alterações funcionais, cujas razões continuam por explicar.