Quer Saber se Está Contaminado pelo Herbicida Glifosato?
Leia também o folheto sobre o glifosato.
Leia também o folheto sobre o glifosato.
A revista Visão publicou no final de 2017 o artigo “A guerra tóxica do glifosato” sobre o confronto de forças no debate intercontinental relativo ao herbicida mais vendido no mundo. O texto não é imparcial ou objetivo, nem parece ter havido essa intenção por parte do jornalista que o assina. Para esclarecer ao pormenor muitas das falhas factuais e de lógica no artigo da Visão descarregue aqui o comentário parágrafo a parágrafo da autoria da bióloga Margarida Silva.
2017/11/07 _ Com o maior nível de contaminação de toda a União Europeia
É esta quinta, 9 de novembro, a votação em Bruxelas onde deverá ficar decidido o futuro do glifosato – o herbicida mais usado em Portugal. A Comissão Europeia pretende a renovação da licença, que expira já a 15 de Dezembro, mas não tem conseguido apoio suficiente por parte dos Estados Membros. O Ministério da Agricultura português (que se absteve na reunião anterior) é chamado a defender os interesses do país e juntar-se aos que exigem o fim do glifosato – a única opção defensável, considerando as evidências já acumuladas a nível nacional e não só…
2017/08/01 – Tudo indica que nos próximos meses será tomada a decisão sobre a eventual renovação da licensa do glifosato a nível europeu. Este processo, que se arrasta há vários anos, recebeu parecer positivo por parte do Estado Membro relator (Alemanha), da EFSA (Agência Europeia de Segurança Alimentar) e da ECHA (Agência Europeia dos Produtos Químicos) – que anuiram quanto à natureza não carcinogénica deste herbicida. A Organização Mundial de Saúde (OMS), por outro lado, classificou o glifosato em 2015 na categoria 2A, dando como provado que causa cancro em estudos com animais de laboratório e que (a nível humano) as evidências também apontam nesse sentido mas sem uma demonstração definitiva da relação causa-efeito.
Desde então o diferendo visível entre a OMS e a EFSA/ECHA tem vindo a ser analisado dos mais diversos ângulos, e já se podem retirar algumas ilações. A principal é que o relatório europeu é, na verdade, um documento preparado pela Glyphosate Task Force – uma estrutura da indústria – e anotado apenas pelo BfR (Bundesinstitut für Risikobewertung) alemão… de acordo com o próprio BfR. O conflito de interesses (a que não deve ser alheio o facto de a Comissão de Pesticidas do BfR incluir representantes da indústria) embutido neste trabalho é por demais evidente e isto por si só devia ser suficiente para rejeitar o documento e todo o processo subsequente que nele assentou.
A nível científico propriamente dito os pareceres da EFSA e da ECHA apresentam falhas profundas, que dificilmente poderão ser atribuídas à ingenuidade ou distração dos responsáveis envolvidos. A análise agora publicada demonstra que as duas agências chegaram à sua conclusão ignorando evidências, descartando estudos sem qualquer justificação e violando sistematicamente as diretrizes por que se deviam reger. Estas não são acusações levianas: os exemplos estão apresentados com todo o detalhe no documento. É difícil de acreditar que o falhanço institucional e humano tenha atingido tal dimensão até que se lê como tudo sucedeu, passo a passo. A situação é de tal ordem que, na sequência da publicação deste relatório, a ECHA já reconhece “desafios científicos”, por exemplo “no que toca à estatística” – prometendo uma resposta detalhada durante este mês de agosto.
A verdade é simples: existem dados suficientes – provenientes dos estudos DA PRÓPRIA INDÚSTRIA – para concluir que o glifosato causa cancro. A grande questão é se os governos vão ter força suficiente para dizer NÃO a mais contaminação e doença.
Descarregue aqui o relatório – Glifosato: Autoridades infringem sistematicamente as regras
O artigo da Visão de 29.6.2017 aponta a presença de resíduos de pesticidas de síntese química em alimentos de agricultura biológica, onde estão proibidos. Foram detetados pesticidas em 21 dos 113 alimentos analisados (18,5% das amostras). Apenas um alimento (0,9%) tinha resíduos acima do limite máximo (LMR) legal para a produção convencional (caso do glifosato em couve-coração). Em cinco outros é referido que os teores estão acima dos níveis indicativos de possível fraude para a produção biológica (valores estes que são menores que o LMR).
Assim, os dados apontam para que, nas 113 análises, sete sejam de provável fraude (6,2%). Incluem-se as bagas Goji chinesas, que contêm 8 pesticidas diferentes – o que é inaceitável. Para os restantes 14 alimentos com pesticidas, os baixos teores apontam para contaminação adventícia ou importação de países onde as regras para o bio não são iguais. Ou seja, razões não fraudulentas.
O caso do glifosato é o mais estranho, pois este herbicida mata as couves em que for aplicado. A amostra devia ser testada de novo (para despistar erros) em laboratório com análises acreditadas (o Labiagro, escolhido pela Visão, indicava em documentação recente que as suas análises ao glifosato não estavam acreditadas).
Ao contrário do que se pensa, as normas comunitárias da agricultura biológica não garantem a ausência de resíduos de pesticidas de síntese química.