
DEBATE ABERTO – Agricultura no contexto da crise actual : solução ou problema?
O aumento da produtividade agrícola conseguido a partir de 1950, iniciou uma nova era em que a vitória do Homem sobre os ritmos da Natureza parecia ganha . Apesar dos avisos do estudo ‘Os Limites ao Crescimento’ (1) o avanço do progresso foi rápido e entusiástico. A agricultura mecanizou-se e o uso de pesticidas de síntese, de adubos químicos e de organismos geneticamente modificados (OGM) (2) generalizou-se. Mas agora ,70 anos depois, e confirmando as previsões da altura, os efeitos não previstos estão cada vez mais visíveis nomeadamente em relação à: biodiversidade, contaminação e desertificação do solo, poluição da água e aquecimento global.
Nas últimas décadas as técnicas agrícolas regenerativas afinaram-se e multiplicaram-se (3) e hoje sabe-se que, depois de um período de transição, é possível deixar a agricultura convencional com sucesso mesmo em grandes áreas (4). Sabe-se também que o solo pode ser um sumidouro de carbono estratégico (5) Parece, portanto, que o melhor dos mundos está ao nosso alcance – manter a produtividade e preservar o ambiente.
No entanto, em Portugal, a agricultura intensiva, com tudo o que acarreta, está a ocupar áreas cada vez maiores enquanto a agricultura biológica, que também está a crescer, ocupa apenas 12% da SAU (6). E, apesar dos ventos de mudança trazidos pela Comissão Europeia (CE) com as estratégias “Do Prado ao Prato” e “Biodiversidade” (7), há em Portugal, uma enorme pressão para que tudo fique na mesma. Mas afinal o que significa ficar tudo na mesma no contexto actual? E é possível ficar tudo na mesma? A fertilidade do solo é ou não um recurso fundamental a preservar para as gerações futuras? O que leva os agricultores a apostar na agricultura intensiva? Os Novos OGM constituem uma ameaça para a agricultura biológica? Estas são algumas das perguntas que vamos abordar neste debate. As realidades são complexas e precisam de um amplo e aprofundado debate público que urge acontecer.
PARTICIPANTES:
Leonardo Collier, especialista em Produção no Solo na Food4Sustainability ( a confirmar);
João Valente , agricultor em modo de produção biológico;
Luís Peças, professor de Agricultura Geral, Pastagens e Culturas Arvenses;
José Coutinho professor de “Agricultura Biológica e Produção Integrada”; Graça Passos (PTF), moderadora.
22 de Março de 2022, das 14h às 17h
Escola Superior Agrária de Castelo Branco, auditório A2 | Entrada gratuita
Organização: Plataforma Transgénicos Fora em conjunto com a Quercus Castelo Branco e a Rede para o Decrescimento
Apoio: Escola Superior Agrária de Castelo Branco
NOTAS : (1) Estudo feito no Massachusetts Institute of Technology (MIT), liderado por Donella e Dennis Meadows e publicado em 1972 com o titulo ‘Os Limites ao Crescimento’ . Avaliaram parâmetros como a produção alimentar e industrial, a disponibilidade de recursos não renováveis e os níveis de poluição no contexto de um modelo socioeconómico assente no crescimento exponencial. Concluíram que, mantendo o sistema vigente, os limites ao crescimento seriam atingidos dentro de 100 anos, seguidos de um colapso abrupto. Concluíram também que, optando por um sistema socioeconómico diferente, era possível evitar a catástrofe, satisfazer as necessidades básicas de todos e atingir estabilidade económica e ecológica sustentável. Texto adaptado
(2) Para além dos OGM muito contestados na europa temos agora os NOVOS OGM – criados pelas novas técnicas de engenharia genética (“tesouras genéticas” como o CRISPR/Cas). Estas ferramentas tornam o genoma acessível a alterações de um modo radicalmente novo e muito mais profundo acarretando riscos ambientais acrescidos. O Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) deliberou que os Novos OGM deve ser regulados pelas leis aplicáveis aos OGM já existentes na UE, mas a CE está a ignorar o parecer e a tentar desregulamentar e impulsionar o seu cultivo. Criou-se uma coligação internacional de ONG para enfrentar esta situação e, ainda em Março, se iniciará uma campanha nessa sentido. Mais info
(3) Veja-se este Guia de Boas Práticas Agrícolas
(4) Veja-se a apresentação da Herdade do Esporão no lançamento da campanha da PTF “Agro-ambientais sem glifosato / herbicidas – por uma agricultura regenerativa, climática, sem ogm e com mais carbono no solo”
(5) https://www.stopogm.net/agro-ambientais-sem-glifosato-herbicidas
(6) Superfície agrícola utilizada nacional
(7) Para fazer face à crise ambiental atual a estratégia da Comissão Europeia (CE) “Do Prado ao Prato / From farm to fork”, publicada em maio de 2020 e já aprovada no Parlamento Europeu, traçou estes objetivos estratégicos: a)Reduzir em 50% o uso dos pesticidas mais tóxicos até 2030; b)Reduzir a lixiviação (perdas) dos nutrientes dos adubos em pelo menos 50%, assegurando, entretanto, a manutenção da fertilidade do solo; c)Reduzir o uso de adubos químicos em pelo menos 20% até 2030; d)Reduzir as vendas de antibióticos para a produção animal e para a produção aquícola; e)Aumentar a área de agricultura biológica para 25% de toda a área agrícola da UE.
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