Práticas de proteção fitossanitária contra a broca do milho – alternativas ao cultivo de milho transgénico

Práticas de proteção fitossanitária contra a broca do milho – alternativas ao cultivo de milho transgénico

A principal lagarta do milho em Portugal, a broca (Sesamia nonagrioides) pode ser combatida por métodos não químicos (e sem transgénicos) já aplicados com sucesso noutros países:

1)    Captura massiva de adultos em armadilhas sexuais (20 armadilhas por hectare, com feromona sexual e pastilha inseticida)

2)    Atração e repelência (push-pull technology): cultura isco em bordadura do milho, à base de erva de Napier (Pennisetum purpureum) e/ou erva-do-Sudão (Sorghum sudanense); cultura repelente em consociação com o milho, à base de leguminosas fixadoras de azoto, do género Desmodium, como o D. uncinatum

Outras técnicas culturais importantes para evitar ou combater a praga, já aplicadas em Portugal na produção de milho com boas práticas agrícolas, mais amigas do ambiente, são:

– Rotação de culturas, alternado por exemplo com culturas hortícolas

– Consociação de culturas leguminosas, como o feijão-frade

– Trituração da palha após a colheita, com destroçador de martelos (em vez de enterrar com grade de discos)

– Plantas aromáticas em bordadura, para atrair insetos auxiliares como as vespinhas parasitas e as joaninhas (uma joaninha come mais de 60 ovos de broca por dia).

Estudo de caso em África (push-pull technology)

Estamos no Quénia, não muito longe do lago Vitória. O pequeno campo de milho em frente parece estar com problemas: as plantas têm apenas 1 metro de altura, as folhas estão amarelas e com orifícios, quase não há espigas, mas o campo está cheio de outras plantas com bonitas flores de cor rosa púrpura. O Sr. Ouzo, dono do campo, mostra um outro campo de milho da mesma variedade. Aqui as plantas de milho têm cerca de 2 metros de altura e com as folhas de cor verde-escuro, com muitas e boas espigas. E há poucas plantas com as flores cor rosa púrpura . Ele explica que ambos os campos foram semeados no mesmo dia com a mesma semente. A diferença é que o primeiro campo de milho foi destruído pela broca e pela planta parasita Striga spp., os dois maiores problemas sanitários do milho e do sorgo na África oriental.

Mas o que era diferente no segundo campo? À volta do segundo campo, o sr. Ouzo plantou 3 linhas de erva de Napier. A beleza desta erva é que ela atrai pelo aroma a borboleta da broca, diz o cientista Zeyaur R. Khan, do ICIPE (International Centre of Insect Physiology and Ecology). A erva produz também uma substância gomosa que captura as pragas. Só cerca de 10% das larvas de broca sobrevivem no final. E entre as linhas de milho o sr. Ouzo semeou uma leguminosa do género Desmodium, uma planta que cobre bem o solo e que repele a broca do milho. Esta é atraída para a erva de Napier da bordadura e repelida pelo Desmodium do interior do campo. Este método push-pull foi iniciado e desenvolvido pelo ICIPE. As outras vantagens é que as plantas de Desmodium são leguminosas fixadoras de azoto do ar, enriquecendo o solo, cobrem o solo protegendo-o da erosão hídrica e da ação direta do sol. Além disso esta planta é eficaz contra a Striga spp., pelo que com a consociação desta leguminosa com o milho muito pouca Striga cresce.

Segundo o Sr. Ouzo: “No último ano eu vendi erva de Napier e Desmodium como forragem, por cerca de 100 dólares. Com esse dinheiro eu pude pagar a escola dos meus filhos. Este ano eu pensei produzir também semente de Desmodium, porque todos os meus vizinhos querem adotar esta técnica de combate à broca e à planta parasita. Talvez então eu até consiga comprar uma vaca.”

BIBLIOGRAFIA

Genetic engineering vs. organic farming. IFOAM, 2002. push-pull.net/archives/ge_ifoam_2.pdf
Natural success stories – The ICIPE in Kenya. Florianne Koechlin, 2000. www.push-pull.net/PDF%20files/orgnaicsuccess.PDF

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