Rações e descalabro
Maio de 2010 – A indústria europeia das rações, em uníssono com a da engenharia genética, tem criticado fortemente a actual política europeia avisando que, se não se aprovarem rapidamente mais variedades transgénicas, a Europa corre o risco de rupturas no fornecimento de soja (ver por exemplo este comunicado de imprensa sobre o assunto). A questão prende-se com a importação de soja dos Estados Unidos, país onde estão em circulação variedades transgénicas não autorizadas na UE. Quando, numa importação, o carregamento de soja está contaminado com variedades não autorizadas, tem de ser devolvido à procedência e não pode ser utilizado na UE devido à tolerância zero em vigor.
Quão grave é esta questão? Estaremos mesmo em risco de falências, desemprego, preços a subir em flecha como a indústria lamenta? Talvez não andem a contar a verdade. Segundo um estudo agora publicado pelos Amigos da Terra, nos últimos cinco anos apenas 0.6% das importações foi afectada pela tolerância zero – uma fracção minúscula! É impensável que uma percentagem tão baixa pudesse acarretar tamanhas implicações.
Além disso, este problema só se coloca com importações americanas. No Brasil, por exemplo, existe produção suficiente de soja não transgénica para satisfazer toda a procura europeia. E na Argentina, embora a soja seja quase toda transgénica, nunca houve nenhuma importação bloqueada por contaminação. Está pois bem longe o espectro da quebra de fornecimentos.
A ironia nisto tudo é que os Estados Unidos têm igualmente em vigor uma política de tolerância zero – também não permitem a entrada de transgénicos não autorizados. Porque é que a União não haveria de ter? A indústria das rações ainda tem muito para aprender sobre direito à escolha.
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