Glifosato na Bio-Região de Idanha-a-Nova

16 de Setembro de 2024 lanka Comments 0 Comment

ÍNDICE

CRONOLOGIA | RECOMENDAÇÕES DA PTF | ANEXOS

Câmara desmente contaminação detectada em águas superficiais com análise de água de outras proveniências (rede e furo), comparando o que não é comparável

CRONOLOGIA

6 Setembro de 2023 – PTF divulga os resultados do estudo da PAN Europe . Nesse estudo a amostra colhida numa linha de água na Herdade da Fonte Insonsa, em Idanha -a-Nova, continha 3 μg/L de glifosato, valor 30 vezes superior ao limite de segurança para consumo humano.

15 de Setembro 2023 – Foi noticiado que “A Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, interessada em entender melhor os índices ambientais em todo o concelho, encomendou ao CoLAB Food4Sustainability, laboratório colaborativo na área da sustentabilidade ambiental, um estudo independente e credível que inclua monitorização de indicadores ambientais na biorregião de Idanha-a-Nova, nomeadamente o uso de pesticidas (onde se inclui o glifosato)”. Mas, até agora, este estudo não foi contratualizado com o CoLAB Food4Sustainability.

28 de Setembro de 2023 – A PTF, através do representante da Quercus, Eng.º Jorge Ferreira, felicitou a Assembleia Municipal e o Presidente da Câmara, Eng. Armindo Jacinto, por terem decidido monitorizar os” indicadores ambientais na biorregião de Idanha-a-Nova, nomeadamente o uso de pesticidas” (ver texto abaixo).

4 Dezembro de 2023 – A Câmara Municipal de Idanha-a-Nova emite o comunicado “Resultados de laboratório acreditado – Análises provam que não há concentração de glifosato em Idanha”. O comunicado referia ” O laboratório efetuou as análises e emitiu os relatórios de resultados. E estes não deixam dúvidas: a concentração de glifosato em todas as amostras realizadas situa-se abaixo do limite do quantificável, isto é, uma concentração inferior a 0,03 miligramas/litro”, um valor 10 vezes superior ao detectado pela PAN (0,003 miligramas/L ou 3 microgramas/L). No dia seguinte a autarquia corrigiu esse valor para 0,03 microgramas/litro, valor mil vezes menor que o anterior, correção que está omissa no site da Câmara.

12 de Dezembro de 2023 – PTF solicita o comunicado de imprensa à Câmara pois pretende reagir de forma fundamentada, após análise rigorosa do texto original.

18 de Dezembro de 2023 – Intervenção da PTF na Assembleia Municipal (AM ) questionando o Presidente da Câmara. A PTF esteve presente em todas as sessões de AM – 26 de Fevereiro, 29 de Abril, 28 de Junho, e manterá a sua presença até serem tomadas as medidas necessárias para diagnosticar o grau de contaminação por glifosato na Bio-Região de Idanha-a-Nova.

26 de Abril 2024 – A PTF teve acesso à acta da Assembleia Municipal de 18 de Dezembro 2023 ( a única publicada no site autárquico, até agora) consultar pag. 380 a 383.
Links autárquicos:
https://www.cm-idanhanova.pt/institucional/assembleia-municipal.aspx ;
https://www.idanha.pt/media/6694/ata_sessao_18122023.pdf

28 de Junho de 2024 – Intervenção da PTF na Assembleia Municipal relembrando a não recepção do Comunicado de Imprensa de 4 de Dezembro. No dia 30 de Junho (domingo) a Câmara reencaminhou o Press_Análises provam que não há concentração de glifosato em Idanha (1).

23 Setembro de 2024 – A PTF envia uma Carta Aberta para o Presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova apelando a que providencie no sentido de :

1) Publicar o boletim de análise do CTIC no site da autarquia, para que não fiquem dúvidas quanto aos verdadeiros resultados, assim como a prova da acreditação do CTIC para análise ao glifosato;

2) Contratualizar a monitorização dos indicadores ambientais do concelho, incluindo as águas superficiais, através de um estudo independente, como anunciado há um ano.

A PTF solicitou, novamente, resposta às questões:

1- Quem é o autor, e responsável, pela conclusão “estes resultados desmentem totalmente o estudo divulgado em setembro último pela Plataforma Transgénicos Fora”, divulgada no comunicado de imprensa de 4 de Dezembro de 2023?

2 – Porque é que não foram realizadas análises às águas superficiais, em particular na Herdade da Fonte Insonsa?

3- Porque é que não foram realizadas análises ao AMPA?

RECOMENDAÇÕES DA PTF PARA A ASSEMBLEIA MUNICIPAL

28 de Setembro 2023

Para a Assembleia Municipal de Idanha-a-Nova

Ex.mos Senhores,

Na sequência dos resultados do estudo europeu, relativos ao Glifosato e AMPA, divulgados no comunicado de imprensa da Plataforma Transgénicos Fora (PTF) , tivemos conhecimento que a Assembleia Municipal aprovou um plano para realizar análises ao glifosato em vários pontos do Concelho.

Sendo muito importante a monitorização da situação actual relativa à contaminação por glifosato e AMPA, felicitamos a AM e o Presidente da Câmara de Idanha-a-Nova por tal decisão.

Dada a experiência da PTF nesta área, vimos partilhar algumas recomendações que nos parecem pertinentes.

RECOMENDAÇÕES

1- As análises devem ser feitas não só à substância ativa (glifosato) mas também ao metabolito de degradação, o ácido aminometilfosfónico (AMPA), já que esta molécula também é tóxica.

2 – As amostras de água superficial devem ser recolhidas:

a) Em charcas, ribeiras e rios a jusante de amendoais e olivais convencionais em sebe (superintensivos);
b) No seguinte calendário:
i) Início do Outono (final do ano agrícola e do ano hidrológico);
ii) Final do Inverno (depois do período de chuvas mais intensas);

iii) Final da Primavera (depois da maior parte ou da totalidade das aplicações de glifosato ao longo do ano agrícola).

3- Para garantir resultados fidedignos as análise devem ser feitas em laboratório com acreditação ao glifosato e ao AMPA. Em Portugal, tanto quanto sabemos, não há nenhum laboratório acreditado.

4 – Realizar um estudo complementar ao glifosato e ao AMPA no solo agrícola, com amostragem na linha do pomar e do olival, dois meses após a última aplicação (meia vida do glifosato no solo = 2 meses).

Noutro estudo europeu sobre glifosato no solo, Portugal, infelizmente, também foi campeão. Os teores no solo tratado são cerca de 1000 vezes superiores aos da água.

Lembramos que os agricultores convencionais não são obrigados a aplicar glifosato ou outros herbicidas. Se fizerem “smart farming” encontrarão outras formas de controlar as ervas.

Note-se também que em produção integrada (PRODI) , os pesticidas (incluindo herbicidas) devem ser o último recurso, de acordo com a Lei nº 26/2013, em particular o seu artigo 16º 1.a).

Lembremos também que a PRODI está em Portugal no PEPAC como Medida de Regime Ecológico, tal como a Agricultura biológica, e por isso recebe subsídios para premiar práticas agrícolas amigas do ambiente e das pessoas. Mas não parece ser isso o que está a acontecer.

A vontade do município para identificar e resolver este grave problema é um contributo fundamental para preservar os ecossistemas, a biodiversidade local, a qualidade da água, a saúde dos munícipes e proteger a atividade dos operadores biológicos da região.

A Câmara de Idanha-a-Nova aderiu ao Manifesto da Campanha “Autarquias sem Glifosato” lançada pela Quercus em colaboração com a PTF, em 2019 e , portanto, esta preocupação reforça uma linha de trabalho já traçada e consequente com a existência da bio-região.

Não obstante a predominância da AB no concelho as áreas de agricultura convencional (em PRODI ou não) continuam a subir trazendo preocupações acrescidas e requerendo ações eficazes no controlo da contaminação do solo e da água por glifosato e AMPA.

Os amendoais e os olivais recentemente instalados estão a ser feitos de uma forma que dificulta a conversão para agricultura biológica, não só pela alta densidade de plantação (superintensivo) mas também pela plantação em camalhão alto que limita o crescimento da raiz da árvore e que dificulta o controlo mecânico das ervas infestantes na linha.

A Plataforma Transgénicos Fora pode colaborar na transição para agricultura biológica, mas na condição de os agricultores e empresários agrícolas estarem dispostos a trabalhar desde a fase de instalação dos olivais e amendoais com as melhores práticas agrícolas compatíveis com este modo de produção.

Os melhores cumprimentos,

Jorge Ferreira

Engº Agrónomo (especialidade de Fitopatologia / Proteção fitossanitária das culturas agrícolas)

Consultor em Agricultura Biológica / Organic Farming Consultant (desde 1991)

Representante da Quercus na Plataforma Transgénicos Fora