OGM e Alergias – Parte 1: a soja GM
INSTITUTE FOR RESPONSIBLE TECHNOLOGY
Boletim de Maio de 2007
OS ALIMENTOS GENETICAMENTE MODIFICADOS PODEM AUMENTAR AS ALERGIAS ALIMENTARES
Parte 1 – SOJA GENETICAMENTE MODIFICADA
O enorme aumento das alergias alimentares infantis nos Estados Unidos é frequentemente noticiado(1), mas a maior parte dos relatórios é omissa quanto a uma mudança radical recente da dieta americana. Desde 1996, genes de vírus, bactérias e outras células têm vindo a ser introduzidos artificialmente no DNA da soja, milho, algodão e colza. Estes alimentos geneticamente modificados (GM), muitas vezes não rotulados, apresentam o risco de desencadear reacções alérgicas mortais e as provas recolhidas na última década sugerem que alguns deles estão a contribuir para o aumento das alergias.
OS TESTES PARA A SEGURANÇA DOS ALIMENTOS NÃO SÃO ADEQUADOS PARA A PROTECÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA
Os cientistas sabem há muito tempo que as culturas GM poderiam causar alergias. Mas não há testes que provem antecipadamente que determinada cultura GM é inócua.(2) Isto acontece porque as pessoas normalmente não são alérgicas a um alimento antes de o terem ingerido várias vezes. “O único teste definitivo para as alergias” segundo Louis Prybil, antigo microbiólogo da FDA, “é haver consumo por pessoas afectadas, o que pode ter implicações éticas”(3) E são as considerações éticas de alimentar consumidores não informados com produtos GM de alto risco e sem rotulagem adequada que colocam tantas pessoas em pé de guerra.
O Reino Unido é um dos poucos países que realiza uma avaliação anual das alergias alimentares. Em Março de 1999 investigadores no York Laboratory ficaram alarmados ao descobrir que as reacções à soja tinham disparado em 50% relativamente ao ano anterior. Acontece que a soja geneticamente modificada tinha entrado recentemente no país devido às importações dos Estados Unidos e a soja usada no estudo era maioritariamente GM. John Graham, porta voz do York Laboratory, declarou : “Acreditamos que isto levanta questões novas e muito sérias acerca da segurança dos alimentos GM.”(4)
Os críticos dos alimentos GM dizem muitas vezes que a população está a ser utilizada como cobaia numa experiência. No entanto nas experiências há o cuidado de fazer controlos e medir as diferenças, enquanto que neste caso real não há nem uma coisa nem outra. Os especialistas em segurança alimentar dos produtos GM salientam que, mesmo que alguém tentasse coligir dados acerca das reacções alérgicas que eventualmente causem, dificilmente conseguiriam. Os alergenes potenciais raramente são identificados. O número de consultas médicas devidas a alergias também não é contabilizado. Mesmo quando acontecem casos múltiplos devidas a determinados alergenes bem conhecidos ninguém tem responsabilidades de protecção da saúde pública.(5) Na verdade, depois do governo canadiano ter anunciado em 2002 que iria “vigiar cuidadosamente a saúde dos canadianos“(6) para observar se os alimentos GM traziam quaisquer reacções adversas, acabou por abandonar os planos ao fim de um ano com a explicação de que tal estudo seria demasiado difícil.
A ENGENHARIA GENÉTICA PODE PROVOCAR O AUMENTO DAS ALERGIAS À SOJA
A explicação clássica da possibilidade de um alimento GM poder causar novas alergias é de que o gene importado produz uma proteína nova, que nunca esteve presente anteriormente. Essa proteína nova pode desencadear reacção. Isto foi demonstrado em meados dos anos 90 quando às sementes de soja foi adicionado um gene da castanha do Pará. Embora os cientistas tenham tentado produzir uma semente de soja mais saudável, obtiveram uma potencialmente mortal. Testes sanguíneos às pessoas que eram alérgicas às castanhas do Pará mostraram reacções alérgicas a essa soja GM.(7) Felizmente nunca foi colocada no mercado.
A variedade transgénica que é usada em todo o mundo tem um gene sintético produzido a partir de material genético bacteriano (com partes adicionais de vírus e de plantas). À partida não podemos saber se a proteína produzida pela bactéria, uma vez que nunca fez parte da alimentação humana, provocará qualquer reacção. Como precaução, os cientistas comparam a nova proteína com uma base de dados de proteínas que se sabe serem alérgicas. Se a nova proteína inserida na planta transgénica contiver sequências presentes na base de dados então, pelos critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS) e outros, não deve ser comercializada ou, pelo menos, devem realizar-se testes adicionais. No caso desta soja GM, o transgénico mais vendido no mundo, há de facto secções na nova proteína que são idênticas a determinados alergenes conhecidos. Só que a soja foi introduzida antes dos critérios da OMS serem estabelecidos e nunca foi retirada do mercado nem se realizaram os testes adicionais recomendados.
Se esta proteína na soja GM está a causar alergias, então a situação pode tornar-se muito pior devido à Transferência Horizontal de Genes (THG). A THG refere-se à passagem espontânea de DNA entre células de espécies diferentes. Este fenómeno verifica-se frequentemente em bactérias, mas é raro em mamíferos e plantas. O problema é que o método utilizado para construir e inserir transgenes elimina muitas das barreiras naturais que impedem a ocorrência de THG. No único estudo publicado até agora sobre consumo humano de alimentos GM verificou-se que algumas partes do transgene presente na soja GM acabaram por se transferir para o DNA das bactérias do intestino humano. Além disso esse transgene estava incorporado estavelmente e parecia estar a produzir a sua proteína potencialmente alergénica. Isto significa que, anos depois de terem deixado de ingerir soja GM, as pessoas podem continuar expostas à sua proteína perigosa que continuará a ser produzida continuamente nos seus intestinos.
A ENGENHARIA GENÉTICA ALTEROU O DNA DA SOJA, CRIANDO NOVOS (OU MAIS) ALERGENES
Embora os defensores da engenharia genética descrevam o processo de transgénese como sendo exacto, em que os genes – tal como Legos – se encaixam perfeitamente no lugar, nada poderia estar mais longe da verdade. O processo de criação de uma planta GM pode produzir mudanças profundas no funcionamento natural do DNA da planta. Os genes podem sofrer mutações, ser eliminados, tornar-se constitutivamente activos ou silenciosos, e numa só planta transgénica pode haver centenas de genes cujo nível de actividade foi alterado. Estes efeitos secundários e inevitáveis da transgénese podem significar uma maior concentração de um alergene já existente ou o aparecimento de um alergene até aí desconhecido para essa planta. Aparentemente aconteceram ambas as coisas na soja GM.
Os níveis de um alergene conhecido da soja, o inibidor da tripsina, apresentam níveis aumentados até 27% na soja crua GM quando comparada com soja convencional (não GM). Além disso, embora cozinhar a soja normalmente reduza os níveis desta proteína, na variedade GM ela parece ser mais resistente ao calor: os níveis do inibidor da tripsina são quase tão altos na soja GM cozida como na soja GM crua. A soja convencional cozinhada apresenta sete vezes menos inibidor do que a soja GM cozinhada.(8) Tais dados sugerem que este alergene provoca mais reacções quando se consome soja GM do que em variedades naturais.
Outro estudo verificou que a soja GM contém uma proteína nova e completamente inesperada, que não aparece na soja convencional com que foi comparada. Esta proteína reage com o IgE, um anticorpo que tem um papel central numa grande parte das reacções alérgicas, incluindo as que conduzem ao choque anafiláctico (que pode ser mortal). O facto de esta proteína criada pela soja GM interagir com o IgE sugere que pode também desencadear alergias.
Os mesmos investigadores que fizeram as experiências anteriores mediram igualmente a resposta imunitária à soja através de um tipo de teste cutâneo muitas vezes utilizado em alergologia. Sete voluntários humanos apresentaram reacção tanto à soja GM como à soja convencional, e um outro reagiu à soja GM mas não reagiu à soja convencional. Embora o tamanho da amostra seja pequeno, é enorme a implicação de que pessoas, até aqui sem problemas a consumir soja, poderão sofrer uma reacção alergénica quando na presença de soja GM. Este facto por si só pode ser suficiente para explicar o aumento de alergias à soja já observado no Reino Unido.
O AUMENTO DOS HERBICIDAS NOS PRODUTOS GM PODE CAUSAR REACÇÕES
Os agricultores utilizam uma quantidade de herbicida para os campos de soja GM cerca de 86% superior à empregue em campos de soja não GM (dados de 2004).(9) Isso traduz-se num aumento dos resíduos de herbicida no grão de soja GM, o que pode causar problemas de saúde. De facto, muitos dos sintomas identificados no estudo das alergias à soja no Reino Unido são típicos da exposição ao glifosato. (O estudo detectou problemas de digestão, fadiga crónica, síndrome do intestino irritável, dores de cabeça, letargia e problemas de pele, incluindo acne e eczema, todos eles relacionados com o consumo da soja. Os sintomas da exposição ao glifosato incluem náusea, dores de cabeça, letargia e pruridos, erupções e comichão na pele. É também possível que o AMPA, uma substância proveniente da decomposição do glifosato que se acumula na soja GM após cada pulverização, possa contribuir para as alergias).
A SOJA GM PODERÁ IMPEDIR A DIGESTÃO E CONDUZIR A ALERGIAS
Quanto mais tempo as proteínas sobrevivem no tracto intestinal, mais oportunidade têm de provocar reacções alérgicas. Ratos alimentados com soja GM evidenciaram níveis drasticamente reduzidos de enzimas pancreáticas. Se as enzimas que digerem as proteínas estiverem em menor quantidade, as proteínas dos alimentos sobrevivem durante mais tempo no intestino e isso pode conduzir a uma reacção alérgica que de outro modo não teria lugar. Ou seja, uma redução na taxa geral de digestão proteica devida ao consumo da soja GM pode conduzir a reacções alérgicas a um vasto leque de proteínas, e não apenas às da soja. Não existem estudos sobre a variação da digestão humana de proteínas em função da soja GM.
A SOJA LIGADA A ALERGIAS AO AMENDOIM
Há pelo menos uma proteína na soja natural que reage com anticorpos induzidos por alergias ao amendoim.(10) Isto significa que, para algumas pessoas que são alérgicas ao amendoim, consumir soja pode desencadear uma reacção alérgica. Sendo certamente possível que efeitos secundários inesperados da soja GM possam aumentar a incidência desta reactividade cruzada, aparentemente não foram levados a cabo quaisquer estudos para investigar tal hipótese. Nos Estados Unidos a soja GM foi introduzida nos finais de 1996. Entre 1997 e 2002 as alergias ao amendoim duplicaram. Haverá aqui uma relação causa-efeito?
COMER ALIMENTOS GM É JOGAR COM A NOSSA SAÚDE
A introdução dos alimentos GM na nossa dieta foi realizada discretamente, sem a divulgação e informação de que o público precisa para exercer uma escolha consciente.
Sem saber que os alimentos GM poderão aumentar o risco de alergias e, muitas vezes, sem saber quais alimentos contêm ingredientes GM (como por exemplo nas refeições servidas em cantinas e restaurantes) a indústria da engenharia genética está a arriscar a saúde de todos para seu benefício financeiro privado. No entanto este risco não é desconhecido de toda a gente. De facto, milhões de pessoas procuram agora alimentos que estejam livres de quaisquer ingredientes GM. John Boyles, um médico do Ohio especialista em alergias, diz: “eu costumava fazer muitos testes para despistar alergias à soja mas agora que ela é GM, é tão perigosa que digo às pessoas que não a comam a não ser que diga que é de produção biológica.(11)
Não é permitido que os alimentos biológicos contenham ingredientes GM. [NOTA DE TRADUÇÃO: em Junho de 2007 os ministros da agricultura da União Europeia aprovaram a legalização da contaminação GM em produtos biológicos.] Comprar produtos biológicos certificados ou outros que estejam rotulados como isentos de transgénicos são as melhores maneiras de reduzir os riscos dos alimentos GM. Outra é evitar quaisquer produtos que contenham os vegetais que foram geneticamente modificados: soja, milho, algodão e colza. [NOTA DE TRADUÇÃO: Lista actualizada para a União Europeia.] Isto significa evitar a lecitina de soja no chocolate, xarope de milho nos rebuçados e óleo de algodão ou de colza nos petiscos e outros alimentos prontos a comer.
Ficam os desejos de uma alimentação segura para todos.
Este artigo limita-se a discutir as reacções alérgicas à soja GM. As indicações de que o milho GM está a desencadear alergias é muito mais extensa e será coberta na parte 2 desta série.
Jeffrey M. Smith é autor do recente livro ROLETA GENÉTICA: Os Riscos Documentados para a Saúde dos Alimentos Geneticamente Modificados, que apresenta 65 riscos em desdobráveis de duas páginas muito fáceis de ler. O seu primeiro livro, AS SEMENTES DA ENGANAÇÃO, é número 1 nas vendas mundiais de livros sobre alimentos GM. Jeffrey M. Smith é Director Executivo do INSTITUTE FOR RESPONSIBLE TECHNOLOGY. Visite https://www.seedsofdeception.com para saber mais acerca do trabalho do Instituto.
Referências
[1] Ver por exemplo Charles Sheehan, “Scientists see spike in kids’ food allergies,” Chicago Tribune, 9 June 2006, https://www.montereyherald.com/mld/montereyherald/living/health/
[2] Ver por exemplo Carl B. Johnson, Memo on the “draft statement of policy 12/12/91,” January 8, 1992. Johnson escreveu: “Estamos a pedir que a indústria prove que os alimentos que desenvolveu são não alergénicos? Isso parece uma tarefa impossível.”
[3] Louis J. Pribyl, “Biotechnology Draft Document, 2/27/92,” March 6, 1992, www.biointegrity.org
[4] Ibid.
[5] Traavik and Heinemann, “Genetic Engineering and Omitted Health Research”, 2007
[6] “Genetically modified foods, who knows how safe they are?” CBC News and Current Affairs, September 25, 2006.
[7] J. Ordlee, et al, “Identification of a Brazil-Nut Allergen in Transgenic Soybeans,” The New England Journal of Medicine, March 14, 1996.
[8] Stephen R. Padgette et al. “The Composition of Glyphosate-Tolerant Soybean Seeds Is Equivalent to That of Conventional Soybeans,” The Journal of Nutrition 126, no. 4, (April 1996); incluindo dados nos arquivos desta revista relativos ao mesmo estudo.
[9] Charles Benbrook, “Genetically Engineered Crops and Pesticide Use in the United States: The First Nine Years”; BioTech InfoNet, Technical Paper Number 7, October 2004.
[10] Ver por exemplo Scott H. Sicherer et al. “Prevalence of peanut and tree nut allergy in the United States determined by means of a random digit dial telephone survey: A 5-year follow-up study,” Journal of allergy and clinical immunology, March 2003, vol. 112, n 6, 1203-1207); e Ricki Helm et al. “Hypoallergenic Foods – Soybeans and Peanuts” Information Systems for Biotechnology News Report, October 1, 2002.
[11] John Boyles, MD, comunicação pessoal, 2007.
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O risco de consumir produtos derivados da soja
Sem duvida lendo este artigo, me trouxe uma única convicção, de que a alergia que possuo foi provocando, ao consumir os produtos derivado da soja, comecei a ingerir este produto através dos sucos produzidos, que estão em todos os supermercados locais. Quando percebi já era tarde, apesar de no momento não esta consumindo, passei a ter sérios problemas com vários alimentos, hoje vivo a base de antistaminicos, como Cimetidina, Cetiriszine 10 Mg e ranitidina 150 mg, com intuito de pode trabalhar e viver uma vida satisfatória, tomo um comprimido diariamemente, pois se deixo de tomar, meu IGE aumenta e surgem em pouco espaço de tempo uma série de urticária (bolhas) e coceira em todo corpo.
oi, Não fazia a minima ideia
oi,
Não fazia a minima ideia que era possivel desenvolver alergias a esse tipo de produtos. E o mais estranho é que nosso mercado foi invadido por inúmeros produtos com soja.