Aniversário

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Amanhã, 25 de Julho de 2019, faz exatamente um ano que o Tribunal de Justiça Europeu publicou um acórdão histórico com o intuito de clarificar que a nova geração de plantas e animais geneticamente modificados não passava disso mesmo: uma nova leva de seres geneticamente modificados sujeitos à legislação europeia correspondente e em vigor há anos.

Esta posição representa um balde de água fria para as aspirações da indústria dos transgénicos. As técnicas de engenharia genética mais recentes (sobretudo a técnica CRISPR-Cas9) dificilmente serão mais bem recebidas pelos europeus do que foram as primeiras… a não ser que se tornem invisíveis, sem rotulagem que permita ao consumidor saber o que está a comprar ou a comer.

Além de evitar informar o público as empresas também querem fugir à avaliação de segurança. Pode parecer que testar e verificar se um alimento é seguro para a saúde e o ambiente antes de autorizar a sua colocação à venda é do mais elementar bom senso, certo? Mas quando o único objetivo é o lucro ter cuidado com a segurança é a última das preocupações. Resumindo: vender transgénicos dá mais dinheiro sem a maçada das leis.

Felizmente para quem come, o Tribunal Europeu decidiu não abrir a porta do cavalo. O grande argumento de que a CRISPR-Cas9 é uma técnica muito mais precisa (e, supostamente, muito menos arriscada) do que a manipulação genética de há uns anos atrás afinal não colheu. Talvez porque já há vinte anos se ouve esse mesmo argumento: os OGM “são melhores porque são mais precisos.” É de uma grande ironia que os cientistas que defendiam a bondade dos OGM há duas décadas afirmem agora que afinal os novos OGM é que são os bons, que nestes é que podemos confiar cegamente. Desde quando é que alguém, cientista ou não, pode ser juiz em causa própria?

O facto é que a enorme complexidade do DNA e suas interações com o organismo e o ambiente está ainda por compreender. Quando se mexe no DNA não se consegue para já saber com certeza o que vai acontecer. Por isso mesmo é típico numa só experiência produzir centenas ou milhares de OGM – muitos morrem, ficam deformados ou até monstruosos, mas talvez se consiga obter um ou dois (aparentemente) em condições. Claro que o que acontece a seguir, como mudanças causadas pelos mecanismos celulares inatos de reparação do DNA, efeitos tridimensionais em que genes distantes são influenciados e mudam de padrão de funcionamento e todas as possíveis cascatas de consequências para o ecossistema, tudo isso é imprevisível, intestável e incontrolável.

A narrativa desfiada pelos promotores da engenharia genética — empresas e cientistas apaniguados — faz o possível por desviar a atenção e promete um mundo cor de rosa por via dos seus produtos: proteger o ambiente, matar a fome, inovação, conveniência, unicórnios. Mas como não conseguiram a almejada vitória no campo vão fazer o possível por obtê-la na secretaria: a contestação ao acórdão do Tribunal pretende alavancar uma mudança na legislação europeia que efetivamente liberte os novos OGM dos controlos existentes. O primeiro sinal de que podem ganhar é a recusa, por parte da Comissão Europeia, de desenvolver métodos científicos para testar alimentos e saber se contêm estes novos OGM ou não.

Ignorância, para a indústria e para Bruxelas, é a grande solução para resgatar os transgénicos do merecido desprezo europeu.

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